Dizia eu em Dezembro de 2010: «Ao que parece, estou fadado a fazer falsas promessas e dar estimativas erradas até ao fim… A culpa desta vez nem foi minha, mas ao fim de sete volumes já devia ter aprendido a manter a boca fechada até ter pelo menos o livro nas minhas mãos.»
Modéstia à parte, até foram palavras sábias. Mas parece que não aprendi a lição, pois cá temos mais um livro… e mais um prazo adiado. O primeiro volume da misteriosa nova série sairia em princípio hoje, dia 3, mas foi adiado para dia 5 na Feira do Livro e dia 8 nas livrarias, respectivamente. Não estamos a falar de um adiamento de meses como nos casos anteriores, é certo, mas isto em nada ajuda à minha pouco fidedigna reputação.
Bom, seja como for, aqui está ele, o segredo mais mal guardado da Feira do Livro de Lisboa. Felizes Viveram Uma Vez é a nova série, e O Perraultimato é o seu primeiro volume. Já consigo ouvir à distância os remoques e insinuações, por isso permitam-me adiantar-me e confessar abertamente que não, a escolha desta altura para publicar este tipo de livro não foi de todo inocente. Quando ponderei o que fazer a seguir às Crónicas, pus uma série de antigas ideias na mesa, e um dos factores que mais pesou na minha escolha por esta foi a plena consciência de que vinha aí uma vaga de contos de fadas e seus derivados: filmes, séries, etc. Foi também esse o meu argumento para adoçar a declaração que fiz às autoridades estabelecidas da Presença, de que ia tirar umas férias de Allaryia, que ia deixar uma série de sucesso em pousio e aventurar-me numa nova. E que ela teria ilustrações. E que uma das personagems se chamava «Mama-na-Burra». E que, se achavam que «A Manopla de Karasthan» era um título complicado, ainda não tinham visto nada.
Em relação ao livro propriamente dito, por enquanto não me quero delongar em excesso acerca da sua concepção, nem dos motivos pelos quais quis fazer uma série de livros com ilustrações, nem da razão pela qual optei por um traço menos «realista» para a capa e para as ilustrações (da autoria de Pedro Potier, com o qual já anteriormente tinha colaborado na edição de luxo do Oblívio). Em vez disso, fico-me para já pelo texto da contracapa, e nos próximos dias logo revelarei mais pormenores:
As estórias são conhecidas de todos: sapatinhos de cristal, maçãs envenenadas, príncipes encantados e lobos maus; e todos sabem que, no fim, os que mereciam viveram felizes para sempre.
Então porque é que isso não aconteceu? Porque é que o mundo parece virado do avesso? E porque é que toda a gente age como se nada fosse? São essas as perguntas que atormentam Borralheiro, um dos poucos que sentem que algo de profundamente errado se passou, e o único que se predispõe a ir em busca de respostas. Respostas essas que lhe chegam às mãos na forma dos versos crípticos do misterioso Perraultimato, que o lança numa demanda em busca da verdadeira essência das estórias.
Acompanhado por quatro outras figuras do imaginário popular europeu —a imprevisível Capuchinho, o enigmático Aprendiz, a atormentada Vasilisa e o perigoso Burra — Borralheiro embarca numa inesquecível aventura neste primeiro volume da distopia folclórica Felizes Viveram Uma Vez.