Tudo começou no já incrivelmente longínquo ano de 2005, ainda nem tinha eu acabado de escrever o Vagas de Fogo. O Talismã estava para ser publicado em breve, e eu tinha gostado tanto da experiência de escrever um argumento de BD, que estava mais que disposto a partir logo para outra. Devidamente incentivado pelo Manuel Morgado, pus-me a cismar e a pensar no tipo de história que gostaria de contar, algo que não precisasse de acesso aos completamente monopolizados sucos criativos de Allaryia. Algo que remontasse às minhas leituras enquanto jovem, que me tivesse deixado com uma comichão narrativa e que apelasse à minha sede por mais fantasia épica na minha vida, mas que fosse num registo bem diferente do das Crónicas de Allaryia e que, já agora, aproveitasse a embalagem que eu comigo trazia da minha recente estadia de quatro meses na Islândia, durante a qual aproveitara para pesquisar in loco e me informar acerca de todo um rol de tópicos que sempre me tinham interessado. Algo como… uma sequela do Crepúsculo dos Deuses?
Não, isso não iria funcionar. Mas e um recontar unificador da mitologia nórdica como pano de fundo para uma história de paixão, vingança e perdão na Islândia do séc. XV, com um frade franciscano português estigmatizado que se vê envolvido numa vendeta milenar entre potestades caídas do passado? Isso talvez. Para mais, num projecto de banda desenhada, o que, para mim, seria exponencialmente mais gratificante que o processo de elaborar uma capa para um livro com um artista, como ja vinha sendo hábito meu desde a publicação da Manopla. Mas estou a adiantar-me.
Na próxima entrada, falarei um pouco mais da génese deste projecto, que começou como uma obra de BD a publicar no estrangeiro em 2006, sem sequer equacionar o mercado português, e que culminou num livro a ser publicado em Portugal em 2015. Até lá, deixo-vos com uma música que me acompanhou ao longo de toda esta aventura, um dos mais pujantes hinos à fatalidade humana: Á fellr austan um eitrdala, do grupo musical Sequentia. A sua toada apocalíptica reflecte muito bem o processo atribulado que foi a concepção, feitura e publicação do livro cujo título só mais tarde revelarei.
Para a malta do Spotify, podem ouvir o resto aqui. Altamente recomendado para quem aprecia música tradicional, e recomendado para o resto.