Sai hoje mais um volume do pai de todos os super-heróis – Super-Homem: Contra o Mundo. Não é segredo nenhum para quem me conhece que o Super-Homem é e sempre foi o meu super-herói favorito, bem como o principal catalisador para a minha ambição de um dia vir a escrever para a DC Comics. Porém, ao contrário de muitos outros fãs que conheço, não me fez grande espécie as mudanças pelas quais o personagem passou em 2011, quando foi relançado (para quem não sabe, não é invulgar na indústria da banda desenhada de super-heróis premir-se o equivalente narrativo ao botão ‘reiniciar’ e começar do princípio, numa tentativa de dar uma nova abordagem aos personagens sem o peso da continuidade de décadas de histórias). Essas mudanças passaram por: um regresso à personalidade original do Super-Homem, que, de acordo com a visão dos seus criadores, tinha bem mais sangue na guelra que aquilo a que o público em geral se acostumou; o fim do casamento de Clark Kent com Lois Lane (ou, melhor dizendo, a inexistência desse casamento nesta nova versão); a morte dos seus pais adoptivos que o criaram desde bebé; e – horror dos horrores – um novo fato sem as cuecas de fora.
Criou-se grande celeuma da parte de muitos fãs, e mesmo quem não gostava do Super-Homem achou por bem comentar e discordar das mudanças. Pessoalmente, eu sinto que o Super-Homem tem a desvantagem de ser mais ícone do que personagem, tendo-se tornado quase imutável devido ao peso desse estatuto, e um pouco preso no tempo em consequência disso. Mesmo as pessoas que não gostam do Super-Homem vêem-no como aquele café na esquina, o tal que nunca frequentam ou ao qual só foram um par de vezes, uma delas para trocar uma nota de dez para terem moedas para o parquímetro – aquele estabelecimento que tem décadas de história, mas cuja atmosfera nada lhes diz, embora se tenham habituado à presença dele. E, no dia em que esse café fecha portas ou muda de gerência, ficam cheios de pena e lamentam o sucedido…
Tudo isto para advertir possíveis leitores que o Super-Homem deste volume não é aquele ao qual se habituaram, por isso preparem-se para ser surpreendidos por esta história que o sempre brilhante Grant Morrison engendrou. Amanhã alongar-me-ei mais acerca deste assunto, com a publicação do editorial que escrevi para o volume.