Há anos que o ouço, seja de familiares, amigos, leitores, e mesmo editores. Porque não estou no Facebook? Porque não abro uma conta no Instagram? Porque não uso o Whatsapp como toda a gente? Não percebo que estou a perder leitores/vendas/amizades?
Sei bem que tudo isso é verdade. O excluir-me das redes sociais é, efectivamente, um handicap auto-infligido. Sei que, apesar de sempre ter tido um canal de comunicação aberto com os leitores através do e-mail, estou a prescindir de uma ferramenta de autopromoção tremendamente eficaz, a ficar para trás no que ao marketing diz respeito, e a tornar-me no equivalente moderno ao escritor que se recusa a usar computadores e permanece fiel à sua máquina de escrever. Sei disso tudo. E continuo a recusar-me terminantemente a recorrer a esses serviços.
No início, era apenas por ser reservado. Não queria dar-me a conhecer ao mundo, nem tinha interesse em tomar parte em nada que tivesse “social” no nome. Mais tarde, surgiram as considerações de privacidade, e deu-se origem ao debate entre as posições de “não gosto da ideia de terem acesso/distribuírem os meus dados privados” e “ok, é feio da parte deles, mas, também, não tenho nada a esconder”. Pessoalmente, sempre vi a minha esfera online como uma extensão da minha esfera pessoal, e, da mesma forma que não tenho nada a esconder se por acaso andar de tronco nu em casa num dia de calor, não é por isso que deixo de correr as cortinas. Quem quiser mesmo espreitar, arranja maneira, claro está, mas não vou ser eu a convidá-los.
Depois, há ainda aquela posição que sempre defendi: um dos motivos pelos quais os autores só recebem 10% por livro vendido é porque se parte do pressuposto de que a sua função é apenas escreverem o livro, e que a editora trata de tudo o resto. Ora, as redes sociais vieram mexer com esse paradigma, porque se passou a ter como dado adquirido que, agora que também eles podem chegar a uma audiência global, a promoção deve ficar a cargo dos autores. O que faz sentido, se o autor enveredar pela via das edições de autor, mas é só uma forma de exploração quando aplicado à relação editora-escritor, que fica mais desequilibrada ainda. Por isso, nunca tive problemas em manter um blogue e ir dando notícias, mas nunca aceitei essa noção de que ter uma conta no Facebook era um requerimento para um autor.
Por fim, como mais recentemente se veio a descobrir, o triunvirato Facebook/Instagram/Whatsapp é uma plataforma tecnológica monopolizadora que se faz passar por publicadora de conteúdo para banir certas publicações e fugir com o rabo às várias seringas legais apontadas na sua direcção. É um esquema fraudulento, malicioso e censurador, que se tornou demasiado grande e influente sem imputabilidade proporcional, e eu recuso-me a compactuar com semelhante coisa. Antes, brincava que não queria vender a alma ao diabo e cultivava o ser do contra um bocado pela piada, por não querer que se soubesse que tinha feito “Gosto” ao Degrassi (estava a fazer pesquisa, não me julguem). Mas, agora, se me inscrevesse, sentiria de facto que estava a contribuir para com algo ao qual me oponho com boa parte das fibras do meu ser.
Digo isto sem juízos de valor para com quem tem conta num ou mais desses serviços. É uma opção pessoal, e compreendo perfeitamente quem tenha mais que fazer do que perder tempo com semelhantes considerações e prescindir de ferramentas que praticamente toda a gente usa. Vou simplesmente ater-me à esperança de que, num futuro próximo, o império zuckerbergiano tenha o fim que merece e esta questão deixe de se pôr. Até lá, é manter-me pacatamente neste meu cantinho, enquanto me divirto a convencer pessoas a migrarem do Whatsapp para o Telegram.