Quem leu Segredos do Cronoscópio, o pequeno livrinho de segredos da edição de coleccionador do Oblívio, sabe que a história de Aewyre Thoryn e os seus companheiros era para ter sido contada depois de eu escrever as aventuras do pai, Aezrel Thoryn. No entanto, os primeiros evoluíram muito mais e muito mais rapidamente enquanto personagens na minha cabeça, ao ponto de eu relegar a saga de Aezrel para o prefácio d’A Manopla de Karasthan. Depois disso, a prole do Aewyre & Cia. também esteve perto de roubar o protagonismo aos pais, à medida que eu pensava já no futuro mesmo enquanto escrevia as Crónicas, que, inicialmente, chegara a conceber como uma saga de dez volumes.
Como reza a história, tal não veio a acontecer, e o plano passou a ser voltar a Allaryia vinte anos mais tarde para contar a história de Aewyre & Cia. & Prole Lda., tal como por várias vezes fui revelando em conversas em sessões de autógrafos. No entanto, também aqui a malta mais velha viu o seu protagonismo posto em causa, à medida que eu me debatia com uma série de considerações. O Aewyre e os outros já eram demasiado experientes. Demasiado batidos. Alguns eram até demasiado poderosos. Porque não fazer deles figuras de mentores, com menor participação activa na história…?
Pensei a sério nisso. E havia ainda outra coisa: para de alguma forma tentar recriar A Manopla de Karasthan, enquanto novo capítulo de toda uma outra aventura para colocar um derradeiro ponto final na anterior, não faria sentido focar-me em protagonistas mais jovens e inexperientes, tal como os companheiros o tinham sido em tempos? Não seria melhor usar a malta nova para ter um livro dinâmico, cândido e puro a roçar o ingénuo como A Manopla o foi?
Mas, depois, caí em mim. Já não tenho dezasseis anos. No ano passado, após três décadas sem sofrer algo pior que a ocasional gripe de um dia só, tive uma pleurite, uma pedra no rim, uma otite serosa, e fracturei o tornozelo, o que me fez perder aquela noção de invencibilidade dos mais jovens. O meu cabelo começa a perder vigor. E vou casar-me num futuro próximo. Ainda que quisesse, dificilmente teria como recriar para uma nova geração a sensação rocambolesca de sessão de Dungeons & Dragons do meu primeiro livro.
Donde, A Oitava Era acabou por se ficar por um compromisso. Temos malta jovem, sim, e um ou outro novo personagem, mas ainda lá está a velha guarda de pedra e cal como protagonistas principais. Mais responsáveis e maduros, um pouco à imagem do autor (esperemos), e alguns deles mudados de formas deveras inesperadas. Podem já fazer barulhos de velho quando se curvam para apanhar algo, e dificilmente se juntariam ao primeiro pato-bravo que lhes dissesse que ia a pé para Asmodeon, mas ainda estão cá para as curvas, e mal posso esperar para partilhar as novas aventuras deles convosco.