Nove meses depois, A Oitava Era vai bem encaminhada. 60 horas de edição, 60 000 palavras escritas, 11 capítulos de 22 concluídos, e 100 páginas a apresentar (que, em páginas de livro, deverão corresponder a umas 200). O início foi tíbio e periclitante, como não quis que fosse, mas como não poderia ter deixado de ser. Havia um nervoso miudinho muito grande; só a véspera de estar a regressar a Allaryia foi como uma viagem ansiosa de alguém que está a voltar à cidade onde nasceu após uma longa ausência. Quanto terão as coisas mudado? Será que ainda vou reconhecer as pessoas? Como é que tudo aquilo vai parecer, agora que venho com outros olhos?
Uma vez ultrapassada essa fase, foi uma questão de ir mantendo um ritmo regular, como já antes especifiquei nos meus métodos e rituais de escrita. Seja uma palavra, um parágrafo ou uma página, o livro tem de avançar. E lá avançado tem ele, felizmente, ao ponto de agora poder dizer com mais confiança que sou bem capaz de defraudar as expectativas que criei na passada Feira do Livro, onde cometi a burrada de dizer que contava ter o livro pronto já na próxima.
Também tem sido engraçado constatar o quanto o meu estilo de escrita mudou. Seja pela experiência, ou pelo trabalho de tradução e revisão que agora também faço, noto que os meus parágrafos estão mais curtos, os diálogos (espero) mais naturais, e mesmo a minha proclividade para um léxico mais abstruso se me afigura mais sofreada (não resisti).
Mas isso saberão vocês, os leitores, avaliar melhor do que eu, e vou trabalhar no sentido de o poderem fazer o quanto antes. Uma coisa é certa, no entanto: não importa quantos anos passem, para mim, Allaryia sempre será Allaryia. E, sem desfazer de forma alguma do que entretanto escrevi, há muito tempo que não me sentia tão embrenhado a escrever algo. Espero que o prazer de leitura possa vir a ser proporcional.