Sofro desde há bastantes anos de eczema atópico, uma maleita que, não matando, mói bastante. E, na última semana, sofri uma crise particularmente aguda na preparação de um novo tratamento, o que afectou o meu humor, a minha sociabilidade e até a concentração na escrita. Bem sei que há quem sofra de doenças bem piores e mais difíceis de controlar, mas, em suma, não foram uns dias nada bons.
No entanto, porque há sempre um lado bom, sempre que sofro uma crise tenho amplas oportunidades de ouvir as pessoas a dizerem “equizema”, o que nunca deixa de me fazer rir e já não pela primeira vez me fez passar por pedante atópico. Mas a verdade é que me faz rir, a aversão do falante português a consoantes surdas antes de consoantes sonoras na proximidade de uma sílaba tónica. E isso lembrou-me uma série de trejeitos de fala que tive durante largos anos, que aqui passo a enumerar:
Exilir: Qual “elixir”, qual carapuça. Esta palavra foi provavelmente a responsável por ainda hoje eu gostar de antístrofes e fazer por as incluir frequentemente no meu discurso informal (ex: Pontes Ferreira de Melo em vez de Fontes Pereira de Melo, espetão de camarada em vez de espetada de camarão, etc.)
Unuguento: Como vêem, também fui culpado de aversão a consoantes surdas antes de consoantes sonoras. Mas “equizema” continua a fazer-me rir.
Taparuere: Para uma criança que não falava inglês, foi a única forma que arranjei de adaptar ao meu léxico esse elemento fundamental de qualquer cozinha.
Chizato: Em minha defesa, acho que os meus colegas de turma também não teriam sabido escrever o nome do instrumento cortante que usavam nas aulas de Desenho.
Cocoperar: Esta foi por culpa de uma história do Tio Patinhas, em que os Irmãos Metralha queriam algo de um galo, que se recusava a cooperar.
Quais são os vossos lapsos de estimação? Quem tiver paciência e não vergonha, que se acuse.