Gosto de pensar que as minhas entradas aqui costumam ser directas e razoavelmente concisas, mas esta vai provavelmente ser assim para o divagante.
Que grande sessão, a de ontem. Houve imensas condicionantes, e, entre filas longas à entrada, necessidade de usar máscara ao ar livre o tempo todo e algum receio de grandes ajuntamentos na actual conjectura, compreendo perfeitamente porque muita gente acabou por não comparecer. O facto de as próprias sessões de autógrafos mais parecerem uma ida à repartição de finanças (aqueles acrílicos eram horríveis) também tornava a própria interacção menos apelativa, por isso agradeço a boa vontade de todos os que lá estiveram para assinalar em força o regresso a Allaryia.
Pode parecer estranho dizê-lo, mas a sessão teve tanto de revigorante como de frustrante. Frustrante, porque serviu para reforçar o facto de eu ter sido um idiota displicente com a comunidade de leitores, com o meu afastamento do saudoso Fórum Allaryia e as minhas ausências e silêncios prolongados ao longo dos anos neste espaço. Muitos dos que ontem estiveram presentes foram apanhados de surpresa pelo lançamento do Oitava Era, uns convencidos de que a história tinha acabado com o Oblívio, outros certos de que eu tinha abandonado a escrita e seguido para outra.
Não me entendam mal, foi um deleite poder partilhar da alegria de quem vê inesperadamente que a saga que marcou a sua infância afinal sempre vai continuar, mas, mesmo sendo de letras e nada dado a ciências, consigo extrapolar a quantidade de leitores que estarão na mesma situação e aos quais dificilmente terei como chegar. Mesmo que eu tivesse um súbito volta-face e me tornasse de repente adepto das redes sociais, há toda uma fatia do público das Crónicas que eu deixei fugir, e isso não pôde deixar de me desanimar um pouco.
Enfim, resta-me recorrer ao bom velho palavra-passa-palavra e pedir-vos o favor de a espalharem. Dêem um toque a amigos do Facebook que leram as Crónicas no passado. Digam a quem possa estar interessado que, com o lançamento da nova edição da Manopla e o pack promocional, agora é o melhor ponto de entrada para Allaryia. Ah, e se tiverem conta no Goodreads, não tenham pejo em dizer o que pensaram do Oitava Era.
Mudando de registo, falemos da parte revigorante, que foi o que mais marcou a sessão. Ainda não tenho fotos, porque sou inexperiente nisto de fazer relatos ao vivo, e o acrílico e a interacção mais indirecta com os leitores também não davam azo a grandes ocasiões de registar momentos. Mas houve-os, entre os quais destaco o facto de ter finalmente sido «perdoado» por quem de direito pela minha atoarda açoriana no Guia de Pronunciação do Vagas de Fogo. Mas houve mais, a maior parte demasiado pessoal para partilhar aqui sem consentimento, com a honrosa excepção de um leitor retornado que tinha parado de ler na Essência da Lâmina, mas nunca deixou de usar o nome do Quenestil nas suas muitas actividades lúdicas.
E como não referir aquele que teria sido o meu primeiro cartaz concupiscente, mas que acabou alegadamente «esquecido» em casa devido a um dia muito atarefado antes do horário da sessão de autógrafos? Digo «esquecido» porque, aqui entre nós, acho que foi mesmo por vergonha, mas fica registada a intenção.
Já estou a divagar demasiado, tal como temia, mas queria mesmo deixar registado o quanto o vosso entusiasmo me contagiou. À conta do adiamento forçado do lançamento do livro, ainda não tinha conseguido encerrar este capítulo em definitivo na minha cabeça; era como se, apesar de escrito, revisto e impresso, ainda não tivesse acabado o serviço com o Oitava Era. Mas ontem deu-se o clique, e agora vou começar a trabalhar a sério nos apontamentos que já tinha feito para o próximo volume, Os Filhos do Caos.
Muitos talvez não tenham noção, mas eu transfiguro-me nestes eventos, passando de tipo reservado a quase tagarela — razão pela qual, depois das sessões, normalmente preciso de me isolar para recuperar do «trauma». Foi o que fiz ontem, quando fui repor calorias numa mesa isolada no restaurante Ao Monte (visitem, digam que vêm da parte do Faria e peçam o Bife “Ao Monte”; não se vão arrepender). O proprietário já me conhece desde criança e acompanhou a minha carreira de autor, e poder fazer com ele uma retrospectiva ao final do jantar foi a conclusão perfeita para o dia. Mas quem fez esse dia foram vocês, por isso, uma vez mais, o meu sentido obrigado a todos.