À espera de novidades. À espera de uma aberta. À espera de uma ordem de soltura… Para mim, esperar sempre foi um dos maiores refreadores de criatividade. Não o esperar que algo aconteça, mas o não saber quando posso sequer começar a esperar que algo venha a acontecer.
2020 tem sido um ano de espera para muita gente, um jogo de paciência a vários níveis que se veio juntar às outras coisas pelas quais todos esperamos na vida. Acontece que o final do ano me trouxe um lote de coisas por que esperar, e para mim — que gosto de resolver as coisas ou de as deixar encaminhadas sem ficarem pendentes — o estado de suspensão da espera indefinida deixa-me sem vontade nenhuma de escrever. As ideias ainda vão despontando, e os apontamentos vão sendo devidamente anotados, claro, mas não há o impulso de pegar no churdo e começar a desfiar e tecê-lo.
Seria de esperar que a escrita servisse como distracção, mas comigo não funciona. Sinto-me dependurado quando estou à espera e, por mais que esperneie e esbraceje, o máximo que consigo é andar à volta. Isso não me impede de trabalhar e cumprir as minhas obrigações profissionais, obviamente, e a escrita tem de facto a sua faceta mais obreira. Mas, como já por várias vezes referi noutros termos, ainda que a escrita seja 90% transpiração e 10% inspiração, se esses 10% estão dependurados ou suspensos, nem com rios de suor se chega lá.
Pegando na analogia do churdo acima, o «trabalho» que ainda consigo fazer é tosquiar os memés que apascento nos prados da criatividade. E tem havido bastantes desses, felizmente, o que significa que, quando for despendurado, terei muito em que pegar. E muito material para o futuro, também. Até lá, enfim, é esperar…