Eles infestam os mundos de fantasia de que gostamos. Quando as coisas correm mal, ficam-lhes entregues. E, na pior das circunstâncias, podemos ser atirados a eles.
Falo, obviamente, dos biçuç. Ou bixux. Ocasionalmente, biçuçs. A bicheza que imaginamos quando somos mais novos, a bicharada que tanto pode ser um animal de estimação, um amigo, ou a bicharia com que autores de fantasia povoam as suas histórias, tudo pode ser biçuç. E, frequentemente, tudo realmente o é.
Se este preâmbulo vos deixou confusos ou receosos, nada temam. Vem a propósito da entrevista que fiz hoje para o próximo episódio de Litortura Nacional (que deverá sair este fim-de-semana), em que falámos de libretos, entre outros assuntos. Leitores mais atentos ou de mais longa data talvez se lembrem das minhas várias alusões a um libreto que eu andava a fazer e que, entretanto, já foi concluído e se encontra nas mãos de quem de direito, à espera do momento certo para ser desencadeado.
Mas o que vem a ser isto de biçuç, afinal? Ora, acontece que foi o tema que escolhi para o libreto em questão, e a devida contextualização será feita a seu tempo. Mas a entrevista fez-me pensar mais sobre o tema, e achei que era altura de dar pelo menos uns lamirés acerca dele.
Antes de mais, honra a quem a merece. O «pai» dos biçuç é o meu grande amigo Nuno Mata, que gosta de falar de bonecos, tem um hospital para bonecada e é detentor de uma voz que é um crime não estar a ser usada em dobragens, conforme poderão constatar na seguinte amostra da infame «voz de biçuç»:
Graças a ele, os biçuç acompanham-me há muito tempo e têm-se disseminado gradualmente pelos meus círculos de amigos. A sua versatilidade garante que podem ser usados para quase tudo, seja como muleta quando nos falta uma palavra, um termo carinhoso para crianças ou animais de estimação a que não sabemos bem como nos referir, uma maleita não diagnosticada, ou para preencher um momento de silêncio numa conversa.
Tudo pode ser biçuç, tal como disse. E tende realmente a sê-lo a partir do momento em que se começa, porque a tendência é começarmos a substituir todas as fricativas sibilantes por «ç» quando metemos «biçuç» numa frase, o que resulta num linguajar tirante a uma sopinha-de-massa levada a um extremo caricato.
Escusado será dizer que não é disso que o libreto trata, mas achei por bem tirar estes pormenores do meu sistema agora, para mais tarde poder contextualizar a coisa em condições. Até lá, um Bom Ano repleto do melhor tipo de biçezaç para todos.