Eis-me regressado após nova epopeia, que incluiu uma viagem surreal de Mostar a Sarajevo às 5 da manhã, seguida de um voo para Istambul, aquele que quase pareceu um acidente aéreo em Genebra, uma última etapa até Lisboa e 1 hora a pé para regressar a casa, só porque me apeteceu e porque precisava desesperadamente de esticar as pernas depois de quase ter esticado o pernil.
Remeti-me ao silêncio estes passados meses, porque realmente não estava com disponibilidade mental para nada mais além do trabalho. Os problemas com o computador e a indisponibilidade de muitos convidados serviram como pretexto para um hiato no Litortura Nacional, livros nem lê-los, jogos nem jogá-los, e mesmo os amigos mais próximos habituados à minha maneira de ser assim para o reservada estranharam o meu silêncio.
Seis meses é de facto muito tempo para muita coisa, sobretudo para não ver a mulher com a qual se vai passar o resto da vida, e logo numa altura em que esse novo capítulo já era para ter começado. E, quando se dão percalços que se vêm juntar ao contexto de uma situação global que fez das viagens uma lotaria, a frustração pode tornar-se difícil de gerir, sobretudo quando a nossa ocupação requer um determinado estado de espírito.
Mas enfim, acabou por correr tudo bem, e voltei de baterias, coração e alento recarregados. E passar a Páscoa num local tão fervoroso como a Herzegovina é uma experiência por si só, que me ajudou a regressar com um renovado sentido de propósito, bem como uma até aqui impensável noção de escrever um romance sobre esta história. Quem frequenta este espaço há mais tempo e/ou me conhece sabe bem o reservado que sou e o pouco que tendo a deixar registado sobre a minha vida pessoal, a menos que tenha algo que ver com a escrita. Mas a verdade é que começam a ser demasiadas peripécias, emoções e momentos dignos de registo para que a ideia não esteja pelo menos presente no meu espírito.
Dito isto, estejam descansados, que as prioridades de escrita não mudaram. Vou já voltar aos Filhos do Caos (talvez até mesmo esta noite) e ter uma reunião este fim de semana sobre o segundo volume do Dragomante. Vou também começar a preparar as próximas entrevistas para o Litortura Nacional e fazer os possíveis para não passar do oito para o oitenta e espalhar-me em várias direcções sem me focar em nenhuma, mas queria pelo menos assinalar aqui esta transição e agradecer a paciência de todos vós, que esperam anos por livros e, por vezes, meses por um sinal de vida.