Há já algum tempo que o silêncio reina aqui por este espaço, por motivos de iminente casamento intracomunitário. Embora o blogue se tenha tornado mais «blogue», na medida em que já não é só uma plataforma para eu publicitar e falar dos meus projectos, tenho sempre algum pejo em falar só de assuntos não-criativos, sobretudo quando passo um período mais prolongado sem dar novidades. Por isso, hoje decidi falar um pouco de ambos nesta anamnese.
(Antes de mais, sim, o segundo volume do segundo ciclo continua a ser escrito, mas a um passo que não tem como não ser de caracol. E o segundo volume do Dragomante deverá sair algures no verão)
Como já por várias vezes aqui disse, tenho algumas tendências obsessivo-compulsivas, muitas vezes com detalhes que não lembram ao diabo. E gosto de me ater a sistemas, mas muitas vezes abro excepções de forma forçada e arbitrária. Neste caso concreto, falo dos caracteres especiais que uso para distinguir os vários idiomas falados em Allaryia (coisa que, no passado, levou a que eu tivesse de ir à tipografia indicar os respectivos códigos, porque não havia maneira de atinarem com aquilo — ainda tenho o documento em que os mapeei, e tudo).
Leitores mais atentos provavelmente já terão reparado que a maior parte dos idiomas allaryianos se caracteriza por uma família de caracteres consistentes (como as cedilhas ą, ç, ę, į, ļ, ņ, ŗ, ş, ţ, ų dos eahlan, as vogais com acentos agudos laonesas à, è, ì, ò, ù, etc.), e que estes se distinguem uns dos outros de uma forma muito pouco natural, na medida em que nenhuma outra língua possui os caracteres especiais da outra. É uma gracinha sistemática que funciona bem a nível visual, e a que achei piada enquanto examinava os diacríticos de vários idiomas.
Mas o que hoje aqui me traz é a família de caracteres wolhynos (đ, ħ, ŧ, ø, ł). Regra geral, os idiomas allaryianos e a sua grafia são até certo ponto influenciados por línguas do nosso mundo que sejam minimamente alusivas a eles, mas a Wolhynia, que remete claramente para as línguas germânicas setentrionais, tem apenas um caractere a condizer (ø), sendo os restantes croata, maltês, lapão do norte e polaco, respectivamente. E lembrei-me disto porque, ao contrário dos demais, o đ wolhyno em boa verdade nem sequer soa àquilo a que devia.
A saber, o đ wolhyno representa a fricativa dental sonora (pensem no «th» de «that») que, em islandês, é representada pela letra ð. Mas o đ do croata original representa o som «dj» (de «join»), como a minha convivência com uma noiva herzegovina, os seus familiares e amigos não se cansa de me relembrar. Porque optei eu então pelo đ em vez do ð, que até é escandinavo e tudo, e seria uma inclusão mais natural…?
Bem, porque o ð é torto. Tem uma haste torta, e isso faria com que destoasse dos companheiros ħ, ŧ, ø e ł. Então, ignorando a fonética oficial, decretei simplesmente que o đ soava a ð, e o assunto ficou arrumado. O que poderá vir a causar confusão, se um dia as Crónicas forem traduzidas para croata. Espero pelo menos conseguir arranjar uma explicação um pouco melhor para isto até lá…