Não, este não é um dos meus pedidos de perdão semestrais por deixar este espaço em silêncio por um período de tempo mais prolongado. Trata-se, isso sim, do reconhecimento de uma falta minha, numa altura em que me estou a queixar precisamente dela.
Como já antes referi, estou casado perante Deus, mas não perante César, porque ainda não recebi atestado de matrimónio. Não vou entrar em detalhes, mas, a menos que tenha escapado algo a mim, ao oficiante e ao pároco (todos menos eu com experiência em matrimónios internacionais), aquilo que se está a passar é alguém a tentar mostrar serviço. Não por maldade, nem por querer intencionalmente dificultar a vida a outros, mas só para mostrar serviço e justificar o seu posto de trabalho. Aquilo que se poderia chamar de «Síndrome de Mostrar Serviço».
Virando o bico ao prego, o motivo pelo qual estou a escrever isto nem é para me queixar da burocracia bizantina do nosso país, mas para reconhecer que eu próprio já por mais do que uma vez acusei esse mesmo síndrome. Envergonha-me admitir que, enquanto revisor e editor, já sucumbi ao Síndrome de Mostrar Serviço (doravante SMS), quando se tratavam de traduções sem erros. Bastava encontrar uma frase que eu teria traduzido de outra forma, por exemplo, ou trocar uma palavra perfeitamente apropriada por um sinónimo mais curto para a disposição de texto num balão ficar mais simétrica.
Nada disso melhorava a tradução; tornava-a apenas diferente. E, em minha defesa, a vida do tradutor nem sempre era dificultada, a menos que ele fizesse questão de rever a revisão, embora a do paginador fosse, porque significava trabalho que no fundo era desnecessário. Mas esse PDF revisto — nem que fosse apenas uma palavra em 154 páginas — já dava mostras de serviço, não fosse alguém achar que eu estava simplesmente em velocidade de cruzeiro a aviar traduções.
Por isso, as minhas desculpas aos tradutores e paginadores aos quais dei trabalho desnecessário só por causa do SMS. O serviço, seja ele qual for, deve falar por si só e não precisa de ser mostrado, porque isso acaba sempre por causar perturbações desnecessárias a outros. Enfim, cá se fazem, cá se pagam…