Todos nós temos elementos da nossa infância/adolescência que nos acompanham para o resto da vida. Músicas, filmes, guloseimas, desenhos animados… ou jogos. No meu caso, um dos mais queridos e duradouros é mesmo a série Monkey Island. Agora que soube que sempre vamos ter ainda este ano o sexto capítulo com o qual já ninguém contava, senti-me inspirado para escrever esta entrada.
Tudo começou nos meados do secundário, algures na década de 90, quando, certo dia, em casa de um amigo, este me apresentou a um tipo de jogo que eu desconhecia e que era completamente diferente dos que eu tinha jogado, o Monkey Island 2. Não era de acção, nem de plataformas, e requeria a resolução de quebra-cabeças para avançar na narrativa. Ele já tinha acabado o jogo, mas dava-lhe prazer jogá-lo novamente, e rapidamente percebi porquê. Era um colorido mundo de piratas, com uma orelhuda banda sonora MIDI de múltiplas camadas, um sentido de humor que na altura nem soube bem apreciar, e personagens expressivos e bem caracterizados.
Como o título o dá a entender, tratava-se de uma sequela, mas nem prestei grande atenção a esse detalhe. Havia coisas que me escapavam e que remetiam para outras aventuras, mas imergi-me de tal forma na história, que nem me importei muito — também não era lá muito criterioso na altura e, tal como disse, houve coisas que nem soube bem apreciar. Mas foi um jogo que adorei, e algo ficou.
Alguns anos mais tarde, quando um colega meu teve a simpatia de partilhar comigo uma daquelas colecções de disquetes (sim, sou velho) que tinham uma série de jogos para instalar, vi na lista uma outra macacada que me chamou a atenção: Monkey Island 1. Instalei logo e fiquei imediatamente cativado, embora o jogo fosse mais velho. Um par de anos tinham feito toda a diferença na minha capacidade de apreciar um pouco melhor a história e o humor, e o tema musical, em toda a sua glória de Sound Blaster 2.0, era mais orelhuda ainda que a da sequela.
Outros tantos anos mais tarde, já com disquetes perdidas e sem os dois anteriores jogos num novo computador, li numa qualquer revista de jogos que tinha acabado de ser lançado o Monkey Island 3, e envergonha-me um pouco confessar que foram raras as vezes em que fiquei tão deliciado com uma surpresa. O terceiro capítulo foi talvez o mais marcante, pela altura da minha vida em que chegou, pela forma como soube dele, pelos avanços tecnológicos que trouxeram vozes ao jogo, todo um novo e mais detalhado estilo de animação e ilustração, e uma banda sonora absolutamente perfeita para o mundo que retratava. Isso, e uma aventura memorável, claro.
Mais alguns anos depois, já comigo quase a fazer a transição para a faculdade, decidi criar uma página no Frontpage e alojá-la num domínio cjb.net (como disse, sou velho). Modéstia à parte, até ficou porreirita e tinha a sua personalidade, mal-grado o inglês sofrível em partes e a minha claríssima insatisfação para com o criador original da série e o quarto capítulo que estava para estrear, o Monkey Island 4. Ainda pensei em criar um mini-site para alojar os velhinhos ficheiros htm, mas, na condição de homem casado com traduções para fazer, um livro para escrever e um curso de escrita para preparar, rapidamente percebi que já não há tempo suficiente no dia para me dar a esse tipo de luxos só para um artigo no meu blogue.
Voltando ao quarto capítulo, é um bom jogo pelo seu próprio mérito e tem os seus momentos, mas é unanimemente considerado o mais fraco da saga. Tanto, que, depois dele, os fãs tiveram de esperar nove anos pelo quinto, mas a espera valeu a pena, porque é a meu ver o melhor jogo da série. Embora permaneça essencialmente uma aventura cheia de humor e piratagem, tem também drama, nervo e, para agradada surpresa de muitos, páthos genuíno. Teria sido um final digno da série, embora deixasse a porta aberta para mais sequelas, e ao que parece vamos mesmo ter um sexto capítulo, pela mão do criador original, com um estilo artístico excêntrico que desagrada a muitos (eu incluído), mas que tem todo o ar de conter tudo aquilo de que os fãs de Monkey Island gostam.
Esta entrada acabou por ficar maior do que o esperado, e acabei por não dizer nada em concreto. Suponho que tenda a ser assim quando falamos das coisas que marcaram a nossa infância/adolescência, porque a maior parte das vezes não têm qualquer outro motivo além de termos gostado delas numa altura formativa. Só sei que o meu sentido de humor foi bastante influenciado pela série e que, ainda hoje, sem falha, ouvir o tema musical dela traz sempre um sorriso ao meu rosto. Espero que possa vir a fazer o mesmo por quem não conhecia e tenha ficado interessado. Para quem por acaso já conhecia, mas não sente o mesmo com o tema musical, tenho apenas o seguinte a dizer-vos:
Essa é a segunda coisa mais triste que já ouvi.