Em croata, usa-se a mesma palavra para «mão» e «braço» (ruka) e, pasme-se, para «queixo» e «barba» (brada). Normalmente, aproveitaria esta deixa para a piada fácil de que as mulheres aqui têm barba, mas queria fazer uma observação um pouco mais profunda.
Como já por várias vezes disse, a minha escrita é extremamente disciplinada e regrada, e, embora mudanças de ares já me tenham ajudado no passado a ultrapassar bloqueios, a tendência é precisar do meu cantinho sossegado para escrever. Coisa que é impossível aqui na Herzegovina, quando se pernoita na casa de família da esposa, nem tanto pelo nível de decibéis ser naturalmente mais elevado, mas porque o ambiente é completamente diferente.
Como tal, não tenho conseguido escrever, e a estrutura básica do capítulo já está feita, por isso nem me posso sequer contentar a despachar essa parte. Mas não queria mesmo tirar umas férias de dez dias da escrita, tendo em conta que faltam apenas quatro capítulos, por isso decidi uma coisa diferente: um esboço mais detalhado, com referências visuais para todas as cenas e amostras de diálogo. Algo que não exija concentração por aí além e possa ser feito a espaços, e que mais tarde me permita escrever mais depressa, uma vez que já tenho tudo praticamente preparado.
E era isso. Um queixo não é propriamente uma barba, mas se é possível ter uma coisa e não a outra – embora as duas tenham o mesmo nome – então pode ser que um escritor se consiga convencer de que «esboçar detalhadamente» é a mesma coisa que «escrever». Pela paz de espírito, se nada mais.
Tenham umas boas entradas, e vemo-nos em Allaryia em 2023.