PDI

Esta era para ter sido uma entrada do RCPalavras, mas acabou por se tornar numa simples lamúria. A palavra dizia respeito a «convalescença», e eu aproveitei-a só para me queixar de uma camoeca que levei mais tempo que o habitual a sacudir, mas a publicação tornou-se demasiado grande e foi demasiado para lá do âmbito dela.

Pode ter sido da idade, que ultrapassar a barreira dos 40 realmente faz a diferença e começamos a sentir as peças do motor mais perras e enferrujadas. Pode ter sido da ausência de cabelo, porque até aqui eu era conhecido pelas minhas «penas de pato preto», que me permitiam andar à chuva e simplesmente sacudir a água da trunfa ao voltar a casa; antes da minha carecada, era até menino para voltar a casa a pé de madrugada em Reiquiavique, em pleno Janeiro, com -20 ºC, e limpar o cheiro a tabaco do cabelo, esfregando-o com um punhado de neve. Pode até ser sido porque simplesmente não consegui fazer aquilo que costumo fazer.

Normalmente, sempre que sinto um bicharoco qualquer a chocar, seja durante o Inverno, a Primavera, uma pandemia ou a mais branda das épocas de gripe, a minha técnica passa por encasular-me na cama com edredão, de pijama e meias vestidas (normalmente, durmo apenas de roupa interior), e passar lá o dia e a noite. Desta vez, não consegui fazê-lo, porque tinha um grande trabalho de tradução para acabar nesse dia, e acabei por pagar a factura.

Felizmente, mantive o meu registo gripal de nem muita tosse, nem muita febre, mas desta vez levei mais de duas semanas de moinha até ficar completamente recuperado. Foi quanto bastou para pouco ter escrito, tempo que acabou por ser preenchido por pensamentos, reflexões e pelas graças que dei por, entre outros, ainda não ter de usar óculos apesar do tempo que passo em frente a um monitor, e por não ter problemas na coluna.

A minha forma de escrever mudou. Os meus horários de escrita já não são os mesmos. A minha relação com os companheiros, que envelheceram comigo, mudou juntamente com eles e com o resto de Allaryia. Para melhor ou pior, com mais ou menos «tosse» ou «febre», isso caberá aos leitores decidir, mas o que é certo é que muita coisa mudou com o tempo. Felizmente, aquilo que não mudou e não prevejo que alguma vez venha a mudar é a vontade de escrever e criar, que continua a ser uma necessidade para me sentir realizado, independentemente da idade.