Eufonia

Durante anos, julguei que «fonoestética» (do inglês phonoaesthetics) significava palavras que soavam bem, no sentido de soarem «fixes», mas aparentemente significa apenas sons agradáveis. Mais, a palavra não existe sequer em português, porque o termo correcto é «eufonia». E descobri isso logo agora que queria escrever algo acerca de nomes que soavam bem ou apropriados, mas optei por usar essa palavra na mesma, só para não escrever «o que há num nome?» uma terceira vez.

Acabo de passar demasiado tempo a arranjar um nome para um tanarchiano e para a sua aldeia de origem que, com toda a probabilidade, não tornarão a ser referidos. Usei a minha técnica de mistura e combinação, consultando uma lista de nomenclatura bielorussa, e fui esbarrando com uma inesperada quantidade de palavras que fui tentando e verifiquei que já existiam, como o aparentemente peruano «Yauris».

Porque me dou ao trabalho? Porque acho que é fundamental para a consistência interna do mundo, mas não só. Pessoalmente, nomes familiares sempre me alienaram de universos de fantasia em que estava a tentar embrenhar-me, seja por existirem no nosso mundo ou por ser demasiado fácil de perceber aquilo que o autor estava a tentar fazer com eles. Eu próprio tenho exemplos menos felizes como «eahanoir», que mostram ao que vêm com toda a subtileza de um tijolo arremessado à cara, mas passei a esforçar-me mais após os primeiros volumes das Crónicas.

Como é evidente, muita coisa continua a escapar por entre a peneira, mas esforço-me sinceramente para que Allaryia soe distintamente allaryiana. E fazê-lo a toda a gente pode ser excesso de zelo, mas, no que à autenticidade de um mundo de fantasia diz respeito, não há personagens mais ou menos importantes, independentemente do seu protagonismo.