Da escrita (in)disciplinada

Apesar de ter planeado reler todos os volumes das Crónicas enquanto escrevo o derradeiro volume destas, não estou a fazê-lo. Provavelmente devia – por mais que não fosse, para evitar acidentes – mas a verdade é que isso não está a acontecer. Por questões de tempo, poderia tentar justificar-me, não me tivesse eu recentemente comprometido a ler O Senhor dos Anéis em inglês pela primeira vez, como quem tenta recapturar os momentos e o estado de espírito que levaram à criação de Allaryia e das suas Crónicas, ao invés de reler as ditas para me certificar de que acabo a saga em beleza e sem me esquecer de nada.

Em vez disso, vou saltando entre livros. Relendo esta e aquela parte. Verificando se me lembro bem deste ou daquele detalhe. Rindo com piadas antigas das quais já só me lembrava em parte. Revisitando o passado dos companheiros e vendo a evolução destes ao longo de saltos cronológicos. E surpreendendo-me com pormenores que já esquecera por completo, como a razoavelmente detalhada descrição da Batida do Quenestil, que me vai ser muito útil no capítulo que estou a escrever neste momento.

Nada disto faz grande sentido, e não parece nada recomendável… mas a verdade é que vai ao encontro do meu método de caos controlado. Sempre fui meticuloso, mas não necessariamente rigoroso. Sou conhecido por montar «esqueletos» com ossos em falta, para depois ter de puxar pela criatividade para unir tudo sem falhas. Sempre estruturei os capítulos antes de começar a escrevê-los, mas nunca deixei rigorosamente tudo sujeito a um esquema. E sempre me pautei pela disciplina, mas nunca perdi o hábito de deixar muitos detalhes indefinidos, fiando-me na providência musal para mais tarde os elaborar de forma a que tudo fizesse sentido.

E a verdade é que, pese um ou outro pormenor escapado – e uma ou outra coisa feita quase «só porque sim», como a famigerada troca de «carcaju» por «volverino», por exemplo – até agora, tem funcionado bastante bem, tanto nas Crónicas como nos meus outros projectos, e até nas minha saudosas sessões de Dungeons & Dragons. Assim, espero conseguir manter esse registo por, pelo menos, mais um livro…