Tornando à vaca–fria, faço aqui uma confissão que não será surpresa para uns quantos leitores: eu não fazia ideia do rumo que queria seguir com as Crónicas enquanto escrevia A Manopla de Karasthan. Estava a narrar uma história que puxasse pelos meus gostos, nada mais, nada menos. O Seltor iria aparecer de alguma forma, haveria pancadaria, grandes aventuras seriam vividas, Allaryia seria salva, fim.
Mas o velho chavão de «e o resto é história» aplica-se particularmente bem aqui. O resto foi literal e figurativamente a história que cresceu, despontando dessa semente inicial, encaixando e coalescendo narrativamente à medida que era contada e que novas ideias me ocorriam. Os Filhos do Caos não eram para regressar. A Essência da Lâmina não estava sequer equacionada; havia apenas um qualquer segredo por detrás da Ancalach. O Quenestil nunca iria em busca do Fragor. Nem eu sabia ao certo se o Aezrel Thoryn estava ou não vivo. E o Seltor não tinha qualquer outro plano além de tornar a entrar em cena para ser muita mau. Aliás, agora que penso nisso, a única coisa que estava escrita em pedra era que um certo personagem iria morrer bastante cedo (desculpem).
O simples facto de, ao fim de nove livros e um quarto e mais de vinte anos de saga – com mais ou menos plausibilidade, maior ou menor conveniência narrativa e, convenhamos, subjectividade na grossura de vista que se possa fazer a alguns eventos – tudo estar a culminar numa obra com pés e cabeça e qualidades distintas… Sem querer estar a adiantar-me demasiado e a pôr a carroça à frente dos ogroblins, é talvez aquilo de que mais me orgulho nas Crónicas de Allaryia.
Obrigado pela vossa companhia ao longo desta aventura. Ela pode ter começado como o livro que um adolescente escreveu apenas e somente porque gostaria de o ler, mas acreditem que me estou a esfalfar para que o fim dela seja digno da vossa preferência.