Balcãs ao balcão

Hoje, falarei de algo um pouco diferente, nomeadamente comida e bebida. Enquanto encruzilhada cultural, os Balcãs têm uma oferta gastronómica bem característica, e ao fim de seis anos, já fui acumulando alguns favoritos. A saber:

Japrak

Do turco yaprak. Carne picada, arroz e especiarias envoltos em folhas de parra. A versão da sogra destaca-se pelo molho, um segredo da casa através do qual o orgulho herzegovino tenta impor-se ao legado otomano, resultando num confronto de culturas no qual o único verdadeiro vencedor acaba sempre por ser o palato lusitano, nomeadamente o meu.

Kiseljak

Uma água mineral ácida intensamente gaseificada, descrita de forma perfeitamente isenta pela própria marca como uma das melhores águas minerais naturais do mundo. É tão intensa, que até há uma versão para meninos, que tem menos gás e é devidamente identificada por garrafas azuis.

Sarma

Outra versão do japrak, esta envolta em couve de conserva. Em vez de molho, é simplesmente servida no vinagre em que a dita foi conservada, que frequentemente é bebido à parte como um cordial azedo, só para não deitar fora. Dizem que faz bem à saúde.

Ožujsko Grejp

A Ožujsko é das mais populares cervejas croatas, eterna rival da Karlovačko (à semelhança da dicotomia Sagres-Super Bock). Mas, se há um aspecto na qual a primeira se destaca da sua concorrente, é nas radlers que faz. A de toranja é a minha favorita, e bebo sempre mais que devia, mesmo fora do Verão.

Burek

Do turco börek. Mais um do incontornável legado otomano. Carne e especiarias envoltas por massa filo folhada e bem estaladiça. Dizem que a que eu aqui como é a versão herzegovina, mas não estou habilitado para dizer quais são as subtilezas e diferenças. Só sei que é delicioso e que, nos Balcãs, as palavras são como o burek, porque não dá para parar.

Tilea Zova Limun

Sumo de limão e sabugueiro gaseificado. O sabugueiro é um arbusto muito popular nesta parte do mundo, e o fruto e a flor são usados para muita coisa. Bendita a hora em que alguém se lembrou de o misturar com limão e gaseificar, porque o resultado é algo de absurdamente saboroso e refrescante.

Trdelník

Espera lá!, dirão alguns de vós. Praga está cheia de bancas de trdelník, que, na verdade, é uma iguaria romena vendida como algo checo para turista ver! Estás a fazer batota! Pois eu digo-vos que estão certos e errados ao mesmo tempo. Praga está, de facto, apinhada de bancas e estabelecimentos que vendem trdelník. Mas o dito é uma variante do kürtőskalács, um bolo de espeto originário do País Sículo, uma região da Transilvânia habitada pelos sículos (székelyek), um subgrupo do povo húngaro. E, como o legado austro-húngaro é tão real como o otomano nos Balcãs, aí têm. E a versão com chocolate branco é viciante.

Balans +

Para contrapor os abusos acima listados, eis senão quando a Sérvia entra em cena para compor um pouco a coisa. O Balans + é um iogurte líquido com duas culturas probióticas e fruto-oligossacarídeo. Não acho que tenha sido feito para ser usado como digestivo como eu o faço, mas, após tantas iguarias, a tripa agradece.